Instituto Lula

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25/11/2010

Um pedacinho do Brasil na capital da Guiana

    Georgetown, capital da Guiana que recebe hoje (25/11) e amanhã (26/11) a IV Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) tem um pedacinho do Brasil em sua região central. No bairro conhecido como “Little Brazil” moram centenas de famílias brasileiras que migraram para a Guiana. Segundo a embaixada brasileira em Georgetown, moram no país cerca de 10 mil brasileiros. Lá há mercados, lojas, danceterias e restaurante onde o idioma oficial não é o inglês usado na Guiana, mas português. A maioria dos brasileiros que moram na cidade atua no garimpo de ouro e diamante, muitos na ilegalidade, afirma o ministro-conselheiro da Embaixada, Rodrigo Fonseca.

    É o caso da família da maranhense Andressa Alves Ferreira, que saiu do Brasil em 2002. As maiores dificuldades, segundo relata, é o idioma – lá se fala inglês – e as diferenças culturais. “Eu não esperava que seria tão diferente, pois é um país que faz fronteira com o Brasil. A adaptação é muito difícil, mas uma família acaba ajudando a outra”, diz.

    O esforço, no entanto, foi recompensado, porque sua família hoje está estruturada financeiramente e ela, além de estar cursando mestrado, acabou se casando no país. E desde já Andressa avisa aos pais que a primeira providência após o fim do mestrado será retornar para o Brasil.

    A mudança de país também foi difícil para a pernambucana Bárbara Santana. Filha de mãe brasileira e pai guianense, Bárbara viveu em Recife (PE) até os 19 anos. Quando veio para Georgetown com os pais e os irmãos, ao sobrevoar a cidade disse aos prantos “que estava indo viver no meio da floresta amazônica”. A saída que Bárbara e outros brasileiros encontraram para viver longe de casa foi criar uma comunidade organizada de brasileiros em Georgetown.

    “Nós saímos com outros brasileiros, fazemos aula de capoeira, temos festa junina todos os anos e assistimos programas de televisão do Brasil. Há um campeonato de futebol entre brasileiros e guianenses e nos mantemos informados sobre tudo o que acontece no nosso país de origem. Diariamente acessamos sites de notícias e o mais engraçado é que primeiro acessamos as notícias brasileiras e somente depois as locais”, conta.

    Há brasileiros que, por outro lado, não pensam em sair de Georgetown. Aurelízia de Souza já se considera nativa. Mora há 15 anos no país e há 10 é casada com um guianense, com quem teve o filho, Diego, de oito anos, que nunca esteve no país de sua família materna e que, apesar de compreender, não fala português.

    “Não penso em sair daqui. Foi esse o país que me acolheu, que me deu uma família e as condições de ter um emprego. Ando com guianenses, já me adaptei aos hábitos locais, apesar de ainda ter algumas dificuldades e de sentir saudades do Brasil, principalmente da minha família que não vejo há sete anos”, afirma.

    Além da saudade de casa, é comum a esses brasileiros o sentimento de que a vida deles e dos guianenses tende a melhorar a partir da cooperação bilateral entre Brasil e Guiana. Os dois países têm tomado iniciativas visando a intensificar o comércio, que ainda é reduzido e desequilibrado em favor das exportações brasileiras. O Brasil aprovou unilateralmente a concessão de alíquota zero para produtos guianenses, no marco do Acordo de Alcance Parcial de Complementação Econômica.

    Em 2010, o intercâmbio bilateral cresceu mais de 30% em relação ao período de janeiro a outubro de 2009, embora a quase totalidade do comércio corresponda a vendas brasileiras para a Guiana. Além disso, o Brasil estuda uma possível participação em dois projetos de infraestrutura na Guiana. O primeiro deles seria a pavimentação de 450 quilômetros de rodovia entre a cidade de Lethem, que fica na fronteira com o Brasil e a cidade de Linden, distante 100 quilômetros de Georgetown. O segundo projeto seria a construção de hidrelétrica de grande porte na Guiana.