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28/12/2010

Meninos do coque: da pobreza ao sonho de ser um grande músico

    João Pedro Lima, integrante da orquestra Meninos do Coque, apresenta-se para o presidente Lula e minstros em Brasília. Foto: Ricardo Stuckert/PR

    Cerca de 1 km é a distância que separa 130 meninos e meninas da comunidade Coque, em Recife (PE), do “sonho de se tornar grandes músicos”. Nesse percurso – feito a pé ou de bicicleta – os jovens da Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque planejam juntos o futuro, compartilham as experiências, falam sobre ídolos da música e, claro, aproveitam para cantar. Ao som da famosa Asa Branca, canção de Luiz Gonzaga e símbolo do Nordeste brasileiro, conversamos com esses “pequenos” músicos que carregam além de um grande talento e de seus instrumentos, histórias de superação, coragem e determinação.

    Para fazer parte do grupo, é preciso mais do que gostar de música. É exigida muita disciplina, dedicação por quatro horas diárias, seis vezes por semana, frequencia escolar e boas notas. “Sem o comprometimento individual e a noção de que o grupo em sintonia é o mais importante, o trabalho não sai afinado”, explica o regente da orquestra, Lanfranco Marcelletti, que acabou de chegar dos Estados Unidos, onde lecionava música em uma renomada universidade, para dividir sua experiência e “aprender mais ainda” com as crianças. “Vai ser a grande aventura da minha vida. Meu objetivo é fazer com que esses meninos cheguem a um nível profissional, sem nenhuma distinção de jovens de classe média ou alta”, emociona-se.

    Ao ingressarem no projeto, os jovens ganham o instrumento, plano de saúde, uniforme e farda, além de receberem alimentação, aulas de idioma e informática. O que para eles já é uma grande conquista, hoje representa uma alegria especial: nesta terça-feira (28/12), eles se apresentarão para o presidente Lula, que assina contrato de cessão de uso gratuito de terreno onde será construída a sede do grupo, que se chamará Sala de Concertos Presidente Lula. O repertório – disseram em coro – é um segredo que não contam para ninguém. “É para surpreender o presidente, né?”, explica o pequeno Felipe, de 11 anos, que há quatro toca violino e leva a futura profissão muito a sério.

    Durante o último ensaio antes da apresentação ao convidado especial, a euforia dos meninos estava difícil de esconder. As crianças da comunidade pobre, uma das mais violentas de Recife, tinham estampado no sorriso o poder de inclusão social da música. João Pedro Lima, de 15 anos, um dos destaques do grupo, além de ser um dos mais ansiosos, é símbolo da luta diária dos meninos do Coque. Com tudo contra eles, como definiu Rosa de Lima, mãe de João Pedro, eles resolveram que o conformismo com a pobreza e a falta de oportunidades não era uma opção. A dificuldade de conciliar a escola com a rotina intensa das aulas de música, ensaios e apresentações não é um impedimento para buscar o sonho de se tornar um músico profissional. Os professores, disse dona Rosa, ajudam e flexibilizam como podem para facilitar esse dia a dia. “É o sonho se realizando. A gente sai da pobreza em direção a realização profissional, à inclusão e à cidadania”, explica João Pedro.

    “E tem como não se orgulhar?”, alegrou-se dona Rosa, ao afirmar que o filho passou a ser referência positiva na comunidade e que outros jovens, “muitos deles que estavam indo para o mau caminho”, a partir da experiência de João Pedro pretendem ingressar no mundo da música. E o orgulho de dona Rosa não é em vão: apenas três anos após ingressar no grupo, João Pedro foi escolhido para ser spalla, que ocupa a segunda maior posição na hierarquia da orquestra, sendo o principal auxiliar do regente. O jovem já se apresenta em vários recitais e ajuda, com isso, o grupo a angariar fundos para ampliar o projeto. Em maio deste ano, foi a Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-DF), para se apresentar para o presidente Lula e vários ministros. Na ocasião, o presidente afirmou que “a palavra-chave da vida é que o processo seletivo de uma sociedade, entre aqueles que querem vencer, é a gente dar oportunidade”.

    Com a nova sede, que deverá ficar pronta em três anos, o projeto será expandido para que outros meninos e meninas da favela do Coque tenham uma força extra para superar a pobreza e a violência. Do grupo, que forma a primeira turma em meados de 2011, já saíram talentos que foram inclusive para outros países como a Polônia e os Estados Unidos. A principal conquista, conclui o regente Marcelletti, é dar aos jovens uma perspectiva de futuro e oportunidade para que eles saiam da pobreza e passem de “problemas sociais a protagonistas da vida e exemplo de que, com coragem, talento e determinação, nem o céu é o limite”.